Sunday 9 March 2014

U2 Vertigo


O show do U2 - Vertigo - foi no estádio de Twickenham foi no dia 18/06/2005. Eu mal podia acreditar que meu primeiro trabalho em Londres fosse um show do U2  em um camarote que, descobri depois, ficava de frente para o palco.
Acordei mega empolgada, os meninos também iam trabalhar no show, mas eles iam trabalhar pela MJR Tom e ao invés do camarote, eles iriam ficar vendendo cerveja no meio do povo. Éramos 3 crianças felizes aquele dia!

Saí cedinho de casa porque tinha que me apresentar no estande da City no estádio. Nos eventos grandes, a City e outras agências, tinham barraquinhas onde você tinha que se apresentar, pegar sua credencial de entrada, passar pela segurança e ir pro seu posto de trabalho.
Na chegada já encontrei o Felipe que me apresentou mais 2 pessoas que me ajudaram muito naquele dia, e em dias que estavam por vir: O Cristiano, Brasileiro do RS e a Helena, de Portugal.
Cris, Helena, -, Felipe e Eu
Estavamos todos empolgados e resolvemos tirar umas fotos antes de subir para nossos camarotes. Tivemos uma reunião com os managers dos camarotes de Twickenham, eles explicaram como tudo funcionava e o que tinha que ser feito. Eu entendi uns 50% se muito. Eu fiquei no camarote com a Helena e outra menina brasileira que infelizmente não lembro o nome.

Nossa primeira obrigação era organizar o camarote, arrumar a mesa, checar a lista de bebidas desponíveis e estoque, polir as facas, garfos, copos etc. A Helena já tinha mais experiência trabalhando nesse tipo de evento e foi explicando – em seu lindo sotaque português – o que acontecia e o que tinhamos que fazer.
Do nada aparece um dos managers na porta, todo ofegante colocando as mãos no bolso e me perguntando se eu tinha um "ukahiksfhw" - não consegui entender o que ele disse - e antes que eu pudesse pedir pra ele repetir, ele diz, já caminhando pelo corredor: "Pergunta no camarote ao lado, você precisa de um!" 

No camarote
E eu fiquei com cara de vaso na porta pensando: "Do que será que eu preciso?" morrendo de vergonha e sem saber o que ia dizer, resolvi ir no camarote ao lado ver o que eu tanto precisava.
Bate na porta, o Cris abre (ufa!) eu disse: - "Cris do céu me ajuda.." eu devia estar com cara de muito desesperada, por que ele começou a rir e antes que eu falasse qualquer coisa, me deu um "bottle opener" (abridor de garrafas) dizendo: - "Aposto que você não trouxe o seu né?"
 
Enquanto estavamos checando a lista de bebidas, escutamos uma gritaria e fomos pra janela/porta do Camarote. De lá de cima vimos o Bono andando pelo palco com uma câmera filmando o estádio, o palco, se filmando, depois testando o som. A galera dos camarotes gritando e ele dando tchauzinho pra gente. (aahh)

O povo do nosso camarote chegou cedo, alguns camarotes – como o nosso – tinham jantar incluído.  Eles eram muito simpáticos e como era de se esperar, estavam muito empolgados também. A Helena foi quem falou mais com eles e me ajudava quando alguém falava comigo e eu não entendia direito.
O jantar chegou igualmente cedo e nossa função era colocar na mesa – que a gente já tinha deixado arrumada – e oferecer bebidas. Depois que o jantar foi servido, o povo do camarote disse pra não nos preocuparmos em servir as bebidas durante o show.
 
-“Não se preocupem, quando quisermos a gente vai lá e pega a nossa própria bebida! Aproveitem o show meninas!”

Quando o show começou estava claro ainda, o povo do camarote foi todo pra sacada. Nos ficamos sentadinhas no lado de dentro na janela do camarote, assistimos boa parte do show do U2. Com direito a vinho branco oferecidos pelo povo do camarote, fotos e muita risada!
O show foi emocionante e eu so não chorei de vergonha, porque estava muito feliz e agradecida. Eu só conseguia pensar: - “Não acredito que estou sendo paga pra beber vinho e assistir o show do U2”.
Ah quem dera todos os meus trabalhos em Londres tivessem sido assim..


 

Tuesday 25 February 2014

A City


Quando não se tem um nível de inglês muito bom, conseguir trabalho em Londres não é das tarefas mais fáceis, e pra ajudar os meses de Maio, Junho, Julho e Agosto (Verão) são os mais difíceis pra quem procura emprego em eventos – que era exatamente o nosso caso.
Em Londres existem várias agências de emprego temporário. Essas agências são responsáveis por prover (em geral) garçons, porters (ajudantes de cozinha, etc)  para os mais diversos eventos, que vão desde a famosa corrida de cavalo em Ascot (com direito a Rainha e tudo) a festa de casamento Indiano. Em geral nosso trabalho era arrumar as mesas e durante o evento, pegar os pratos (quenteees) e colocar nas mesas.
Os meninos trabalhavam em duas agências, uma era a City Centre e a outra - que não era exatamente uma agência – a MJR.Tom, que vendia cerveja.
Mochila de cerveja da MJR Tom
A City tinha geralmente empregos de garçom e porter e a MJR.Tom contratava pessoas pra vender cerveja em eventos. A pessoa tinha que carregar uma mochila especial contendo uns 20 litros de cerveja, cerveja essa que era servida na hora.
Foi na MJR que tentei conseguir meu primeiro trabalho, sem sucesso, e tudo graças a um brasileiro FDP, dos muitos que, infelizmente, existem espalhados pelo mundo!
A entrevista para este emprego vou coletiva, estavamos todos em uma mesa conversando antes da mesma, e esse brasileiro me perguntou algo que eu não consegui ouvir por causa do barulho, e por que ele falou muito baixinho mesmo.
Quando a pessoa responsável pela entrevista chegou, esse brasileiro, que trabalhava na MRJ Tom, apontou pra mim e disse: “Você pode sair porque não fala inglês.”  Eu tentei justificar, disse que não tinha escutado o que ele disse, o que era diferente de não entender. Mas ele não quis nem saber e disse com um sorriso de satisfação: “Get out!”
Fiquei arrazada, não consigo entender o prazer que um idiota desse sente fazendo isso! Mas enfim, fui embora chorando de raiva e desejando que o c* dele explodisse.
Noss e o Ross
Minha visita a City Centre foi no dia seguinte, o Rafael me disse exatamente o que o Ross (o carinha da agência) iria dizer e me aconselhou a não falar muito.
O Ross era uma figura curiosa, um inglesinho bonitinho de olhos azuis, pele bem clara e cabelos escuros. Ele parecia estar sempre entediado e de mal humor, também não tinha muita paciência com quem não falava inglês muito bem, mas ao mesmo tempo, tinha uma paciência de santo nas Segundas Feiras, quando a sala estava lotada de brasileiros falando português. 
Chegamos na City e sentamos pra esperar nossa vez de falar com o Ross, quando ele viu o Rafael levantou a sombrancela e deu um sorrizinho sem muita vontade como quem pensava: “Lá vem o Rafael trazendo outra pessoa pra trabalhar aqui”.
Eu e o Rafa gostavamos muito de ajudar os outros e ajudamos muitas pessoas a conseguir emprego, seja na City ou em outros lugares. Mas, infelizmente, isso não era a regra, conhecemos muitos brasileiros – inclusive um vizinho nosso do Brasil – que sabiam que estavamos na merda procurando emprego, e nem atender o telefone atendiam! Outra coisa pra mim muito difícil de entender!

Quando chegou nossa vez de falar com o Ross, ele fez uma cara de tédio e mal humor e eu comecei a suar frio. O Rafa disse: - "Oi Ross, essa é minha irmã..” e o Ross completou meio impaciente e com um tom de desdém: - “.. que está procurando emprego”. Ele pediu meu passaporte, e deu um papel pra preencher e pronto, eu estava registrada na City! (hurray!)

Segunda Feira era o dia em todo mundo aparecia na City pra pegar os trabalhos da semana. Em geral, você ia na agência e eles te davam a lista de trabalhos da semana e você dizia quando e onde podia – e queria – trabalhar. Quem já era conhecido na Agência – os queridinhos do Ross - geralmente já estava “bookcado” (booked) para alguns eventos, principalmente os eventos onde todo mundo queria trabalhar, como shows por exemplo.
Na Segunda Feira fui na City sozinha e morrendo de medo do Ross, que pra minha surpresa estava sorridente e quase simpático. Sentei na frente dele ao lado de um menino – o Felipe – que eu chamo de anjo,  por que ele foi mesmo um anjo pra mim!

Entender o inglês do Ross era tarefa difícil naqueles primeiros dias de Inglaterra. Ele falava rápido, pra dentro e não tinha muita paciência e isso me deixava super nervosa! O Ross começou a perguntar se eu tinha as roupas necessárias pra trabalhar: Calça preta, camisa branca, colete, sapato preto e meia preta. Como o Rafa já tinha me dito que ele ia perguntar isso, eu disse que tinha e rezei pra que ele não me fizesse muito mais perguntas.  Então ele disse:

- “Vocês querem trabalhar no show do U2? No camarote (box)?”

Eu achei que tinha escutado errado, por que escutei claramente show do U2, mas não fazia ideia do porque ele falou em BOX. Pensei box = caixa?! Não faz sentido!
O Felipe pulou na frente e disse: “Claro que a gente quer! Coloca nosso nome aí”.
Então o Ross começou a dar um monte de informações e eu fazia cara de quem estava entendendo tudo. Ele estava dando um endereço e explicando onde tinha que ir e com quem tinha que falar, eu fingi que anotei.
Sai de lá empolgada, sabia que ia trabalhar no show do U2 e mais nada! Agradeci o Felipe por ter me salvado e pedi pra ele os detalhes do trabalho. De lá fomos caminhar e ele me explicou direitinho como os esquemas da City funcionavam, os lugares bons pra trabalhar, os ruins, etc. Juro que não sei o que teria feito se o Felipe não estivesse sentado do meu lado aquele dia. Anjos existem! (Na foto com o Felipe - de camisa branca e o Cristiano - outro anjo - no camarote da BT)

Sunday 23 February 2014

Brasileira? Ih tô fora!



A maioria dos meus colegas de classe eram brasileiros, o que não facilitava muito o aprendizado de inglês, mas pelo menos eram mais pessoas pra dividir as primeiras impressões da vida Londrina.
Alguns eram legais e se tornaram amigos, outros além de me irritarem, me faziam sentir vergonha de ser brasileira. 
Quem mora fora sabe, existem vários brasileiros que fogem de outros brasileiros como o diabo foge da cruz, e eu já tinha ouvido alguns conselhos do tipo: - "Se você quiser aprender inglês tem que se afastar de brasileiros".
Acho um absurdo todo esse radicalismo, o fato de alguém ser brasileiro nunca foi motivo pra que eu me afastasse de ninguém, mas não posso negar que encontrei muitos brasileiros que me fizeram sentir vontade de me afastar mesmo!

Uma delas era uma colega de sala, do tipo que chegava quase a se benzer se um grupo de brasileiros passasse por ela na rua.

Ficava horrorizada também quando alguém contava, ou ela ficava sabendo, que ficou com um brasileiro na balada.
- “Que absurdo vir até UK pra ficar com brasileiros! Eu só fico com gringos!” ao que eu respondi, porque não tenho muito saco:
-  “Se for gatinho, não me interessa se é brasileiro, gringo ou seja lá o que for!” (A última notícia que tive da fulana é que ela casou com um Inglês, tomara que por amor né gente?!)
Infelizmente essa não foi a única declarada “Maria Passaporte” que eu conheci , existem muitos “João Passaporte” também.

Uma vez estava eu na balada quando um cara veio falar comigo, tinha cara de brasileiro e o sotaque não negava a proveniência do sujeito. Eu sou descendente de Italianos do norte, pele clara que fica ainda mais clara com a falta de sol Londrina, sou uma negação do estereotiópo de mulher brasileira, enfim. Esse sujeito veio falar comigo em inglês e eu respondi em inglês, claro! Ele ficou lá uns 10 minutos me alugando e eu ali, até que ele resolve perguntar:

- “Da onde você é?” Todo sorridente.

- “Sou do Brasil!” Sorri satisfeita.

- “Ah Brasileira!” Ele agora com um sorrisinho sem graça tentando fingir ter adorado a resposta.

Ele conversou comigo por mais um minuto e disse que ia comprar uma Pint ou ir no banheiro, algo do tipo, e sumiu! Final da noite vi o sujeito de novo, agora conversando com outra branquela e pensei: "Será que ele acertou o passaporte agora?!"

 

Sunday 16 February 2014

A vida real


Meus primeiros dias como turista na Inglaterra passaram rápido, e a hora de realmente viver na cidade chegou.  Eu mal podia esperar!

Na Segunda Feira após minha chegada, fomos na escola – East London School of English (ELSE) - onde eu iria estudar, pra fazer meu test placement.
A escola ficava em Whitechapel , o famoso distrito londrino onde Jack the Ripper (Jack o estripador) atacou e matou suas 5 vitimas, conhecidas como “Canonical five” (Cinco Canônicas) . E e claro que o Rafael fez questão de me lembrar disso enquanto andavamos em direção a escola, cantando a musica do Made in Brasil: Jack, O Estripador.
 
"Em londres no fim do século,
Vivia um sádico infernal,
Espalhava terror a noite
Nas escuras viélas londrinas...
Matou cinco garotas gordas
Usando a lãmina de seu punhal!
Jack, Jack...
Jack o Estripador"

Whitechapel no passado era um lugar de extrema pobreza, sujeira e violência, possuia a “pior rua de Londres” , a Dorset Street. A pobreza empurrou muitas mulheres para a prostituição, estima-se que em 1888 existiam 1,200 prostitutas e cerca de 62 bordeis espalhadas pelo distrito.

Hoje, a maioria – cerca de 46.0% - dos moradores do distrito são de Bangladeche (a grande maioria Mussulmanos). As ruas mudaram muito desde os tempos de Jack the Ripper, mas o lugar ainda possuem vielas escuras e sujas. Isso foi uma das coisas que mais me chamou atenção, por que contrastava com a idéia que eu fazia de Londres.

De Bermondsey pra escola tinhamos duas opções, pegavamos a Jubilee line até Canada Water e depois o Overground pra Shadwell  ou Whitechapel, o percurso todo entre caminhar de casa até a estação e de lá até a escola, demorava uns 20 minutos.

Meu percurso preferido, que era o mesmo dos meninos, era descer em Shadwell e atravessar o Watney Market, onde se vende frutas e verduras frescas e outros produtos que refletem bem a população local de Bengaleses. Pra tentar fugir da rotina matinal, as vezes eu seguia pelo Overground até a estação de Whitechapel , que fica em frente ao The Royal London Hospital, gostava de olhar as lojas que vendem produtos bengaleses e indianos e comer Sausage roll e tomar Ribena num lugar chamado Percy Ingle.

A escola ficava na Cannon Street road, que assim como outras ruas de Whitechapel, possuia a maioria das lojas e negócios bengaleses. Embora a rua fosse meio suja, a escola era bonitinha e organizada e a maioria dos alunos eram brasileiros e russos.

Meu placement test foi rápido, uma provinha e uma entrevista com o diretor da escola. Minha avaliação foi Básico/Intermediário , gramática boa mas precisava melhorar listening e speaking. 
Os meninos estudavam a tarde, mas eu fui colocada em uma turma de manha (Joy!)  Como era verão, não era tao difícil acordar, ja que os dias eram muito longos e o sol comecava a nascer as 4:30 da madrugada. O que significava que as 7:30 tinha-se a impressão de que eram umas 9:00 -10:00 horas da manhã.

Minha primeira turma era composta de 5 Russos, 4 brasileiras e um Slovaco. O professor era Inglês (seria óbvio se meu segundo professor não tivesse sido Australiano) chamado David, bem doidinho que adorava o Brasil e me pediu pra fazer uma lista de lugares pra visitar. Não fiquei muito tempo nessa turma, logo meu inglês melhorou e fui transferida pra turma intermediária – com o tal professor Australiano. 

Conheci pessoas legais na escola, outras nem tanto, e embora frequentasse bastante – coisa que nem todo mundo fazia - a escola não fez muita diferença na minha vida em Londres , aprendi muito mais Inglês (e espanhol) trabalhando e convivendo do que na sala de aula. O próximo passo agora era começar a trabalhar...

 

Tuesday 17 December 2013

Ah minha London...

Eu e os meninos na minha
primeira visita ao Big Ben
No meu terceiro dia em Londres, os meninos me levaram conhecer o centro e Westminster. Pegamos um ônibus, o 188 que nos levaria a Elephant and Castle, onde pegariamos o 12 até o Big Ben. (Ai, e que coisinhas fofas são os onibus Londrinos.)
É óbvio que subimos para o segundo andar e sentamos nos bancos da frente, aqueles grudados no vidro.
Da janela do ônibus fui conhecendo os arredores de onde eu morava, quando chegamos a Elephant and Castle, procurei pelo Elefante e o Castelo mas não vi nada.
 
Tudo era tão lindo, mágico mesmo, uma sensação de estar em casa em um lugar até então desconhecido, fato que nunca tinha acontecido antes de uma maneira tão intensa.
Quando pegamos o 12, o Rafael resolveu brincar com minha ansiedade e a cada 5 minutos dizia: "Olha o Big Ben!"
Eu estava em Londres, mas a ficha não caia, tinha a impressão de estar em um sonho, e ficava repetindo aquilo sem parar, pra alegria do meu querido irmão .

Nunca vou me esquecer a primeira vez que vi o Big Ben, passamos na frente com o ônibus e eu parecia uma doida me abaixando pra ver se eu conseguia enxergá-lo melhor. O imaginava grande e alto, mas ao vivo achei tão pequenininho embora não menos charmoso e encantador. Estar diante daquele simbolo Londrino, o qual já tinha visto em tantas fotos, foi uma emoção à parte.
Foi só quando vi o Big Ben de perto que finalmente pensei: “Agora sim, estou em Londres!!!”

Londres é uma paixão tão grande quanto qualquer paixão romântica. Muito mais do que uma simples cidade. Londres é quase como uma pessoa que se ama, da qual se sente falta quando se está longe.

Talvez esse sentimento tenha nascido do fato de esta cidade tão especial, ter me ajudado a colar os caquinhos, e ter vontade de viver novamente. Lhe tenho uma gratidão eterna! Londres me fez sentir viva e feliz novamente, me devolveu o sorriso que eu costumava ter, e me fez ter fé no futuro.
 
Londres é um lugar que sempre me faz sorrir, não importa o que aconteça. Eu só preciso caminhar um pouco na beira do Tâmisa pra me sentir feliz e recarregar as baterias. Mesmo os mais manjados pontos dessa cidade tão fotografada, não cansam de me fascinar. Vivi em Londres os meses mais felizes e independentes da minha vida, vivendo em plenitude cada segundo. E cada novo dia agradecia por estar viva - no real sentido da palavra - e  vivendo naquele lugar.

Londres é o meu lugar no mundo, a minha cidade, o lugar onde me sinto mais EU. Vinda de uma cidade pequena do interior do Paraná, onde todos sabem da vida de todo mundo, e onde é necessario seguir um certo padrão de comportamento, o anonimato e despojamento de Londres foram libertadores pra mim. Em Londres fui apresentada a uma Sheila mais forte, segura e muito mais independente do que a que vivia em Pato Branco (e Curitiba).
 
Gosto muito de estar cercada de gente, de barulho, adorava quando tinhamos visita e a casa ficava cheia. Como descendente de Italianos que sou, não poderia ser muito diferente disso. Londres é uma cidade pra quem gosta de pessoas, que apesar do clima frio, convida ao encontro.

Londres nunca me fez sentir sozinha, embora eu tenha ficado muito sozinha nos primeiros meses. Gostava de sentar nos muros que ficavam na saida do metro de Oxford Street, e fazer "people watching". Você vê cada figura! Na maioria das vezes eu ficava ali imaginando o que as pessoas faziam, onde estavam indo, de onde eram. Gostava de escutar as pessoas conversando no ônibus, é fascinante a quantidade de línguas que se escuta nas ruas.
 
Londres pra mim tem um cheiro específico, na época não sabia exatamente que cheiro era aquele, descobri mais tarde que (pra mim) Londres tem cheiro de Curry! Como nunca tinha comido Curry antes de ir morar lá, aquele cheio peculiar nas ruas só podia ser o cheiro de Londres!
Até hoje quando passo em frente a um restaurante Indiano a primeira coisa que penso é: "Ahhh.. o cheiro de Londres!"
Gosto também do cheiro do tube, uma mistura de óleo de máquina, café, jornal e poeira. Eu sei, é estranho, mas minha memória olfativa é poderosa e quando ela relaciona cheiros com coisas que eu gosto, não tem o que me faça esquecê-los!
 
O que eu mais gosto de fazer em Londres? Caminhar! Mas não caminhar com um destino em mente, somente caminhar. Não tem nada melhor do que se deixar perder em Londres. Melhor ainda se tiver uma companhia para a caminhada.
Londres é cheia de pequenas surpresas e detalhes, você está andando, olha pra uma casa e vê que nela morava Mahatma Gandhi. Vê um pedaço de muro  antigo e mal acabado e percebe que está diante do "Great Wall", que foi construido pelos Romanos pra defender "Londinium". Entra em uma das várias vielas e dá de cara com o Barbican Estate, que possui "um oasis" no meio da cidade. Tenho certeza que posso morar 50 anos em Londres, sair na rua e encontrar algo fascinante que não conhecia. Pra quem ama história como eu, Londres é um parque infinito de diversões.
 
Adoro o Tâmisa, sentar ou passear as suas margens sempre me acalma, perdi as contas de quantas vezes chorei e me consolei na beira do rio. Talvez por gostar tanto do Tâmisa, uma das minhas caminhadas favoritas é o "Queen's Walk" que fica localizado no "South Bank" entre Lambeth Bridge e a Tower Bridge.
Nesse caminho é possível ver o Big Ben e as casas do Parlamento, London Eye, Queen's Jubilee Footbridge, o Tate Modern, a replica do Shakespeare's Globe Theatre, London Millennium Footbridge, St. Paul's Cathedral, etc.
Perto de London Bridge fica uma das minhas partes favoritas, as vielas onde fica a "The Clink prison", elas me fazem voltar no tempo e imaginar como Londres costumava ser.
 
Não vou nunca entender como alguem pode não gostar de Londres. Respeito a opinião dos outros, mas entender eu não consigo, não preciso e não quero!
 
Se tivesse que escolher uma só cidade, não teria nenhuma dúvida quanto a minha escolha, afinal não existe lugar como Londres. Não existe lugar que me desperte tanto amor.
Se tivesse perdido tudo e todos, saber que Londres estaria lá me traria conforto e a sensação de que eu teria pra onde ir. Deus queira que nessa vida e nas que estão por vir, que eu caminhe as margens do Tâmisa novamente.

Quarta-Feira (18) embarco mais uma vez pra essa lindíssima cidade. Chegar em Londres é como chegar em casa depois de uma longa e cansativa viagem, tão familiar é o lugar. Londres faz vibrar os mais profundos refolhos de minha alma, que fica como que querendo relembrar coisas que se passaram a muito tempo. Talvez eu tenha feito um acordo com as reencarnações – “Reencarno sim, mas somente se eu puder morar ou pelo menos pisar em Londres denovo.”
Nunca quis ser aquela pessoa que um dia morou em Londres e foi embora, se pudesse moraria lá pra todo o sempre. (Amém!)

 

Thursday 5 December 2013

A Bolacha do Capeta


O Tesco, a segunda mãe do Rafael e do Fabrício, foi amor a primeira compra! Minha primeira visita ao mercado foi no Tesco de Surrey Quays no sul de Londres, que era o mais próximo de casa. 

Canada Water Library
Pegamos a Jubilee line em Bermondsey e fomos até a próxima parada: Canada Water. A estação de Canada Water fica em uma região conhecida como London Docklands.
A estação possui esse nome devido ao lago de Canada Water, também conhecido como Canada Water basin, que foi criado a partir de um antigo Dock que recebia muitos navios vindos do Canadá.  
Saindo da estação e possível ver a Canada Water Library, que possui um design muito peculiar - uma especie de piramide invertida. Atrás da biblioteca fica o Canada water basin. 
Atravessando a rua e seguindo a esquerda está a Deal Porters Way, caminhávamos ao longo do Canada Water basin até o estacionamento do Surrey Quays Shopping Centre , onde fica o Tesco.

Ainda hoje, quando vou pra Londres, gosto de fazer esse trajeto pra recordar dos meus primeiros dias na capital Inglesa.
Surrey Quays Shopping Centre
O Tesco de Surrey Quays foi o primeiro supermercado internacional que conheci. Amo supermercados e não preciso nem dizer que fiquei encantada. Tudo o que eu olhava o Rafael dizia: "Tem que ler bem o rótulo, porque tudo tem pimenta aqui!". Eu tinha mesmo vontade de olhar cada pequeno produto, ler cada rótulo,  procurar produtos conhecidos e principalmente experimentar os desconhecidos. Mas os meninos, que já conheciam muito bem o mercado, eram práticos e foram direto ao ponto - a "linha branca e azul" do Tesco.


O Tesco, como vários hipermercados, possui sua "own brand" - produtos que levam o nome do mercado.
Fui apresentada a “linha branca” do Tesco e a tal “Bolacha do Capeta” - gentil apelido dado pelo Rafael à bolacha, que custava somente 0.25 libras e a qual ele não conseguia parar de comer.
A “linha branca” era a salvação dos estudantes na Inglaterra por que era extremamente barata.
A primeira coisa que os dois me mostraram na notinha de compra, foi o fato de que todos os itens comprados custavam menos de uma libra. Era realmente impressionante, e por incrível que possa parecer, o gosto era bom, principalmente a bolachinha do capela, também conhecida como Digestives. Deve ter um motivo pro preço da linha branca ser tão baixo, mas quando se é estudante, não se discute a qualidade das coisas não! E foi assim que o Tesco ganhou uma nova “filha”.A volta pra casa era de ônibus, pegavamos o P12 ao lado do Tesco, colocávamos todas as comprinhas no espaco reservado a elas dentro do ônibus e paravamos na Southwark Park Road em frente de casa. Melhor impossível!


 

Friday 22 November 2013

Cheguei mãe!


Chegar em Londres foi relativamente fácil, mas de cara já apareceram os primeiros problemas. Eu e o Rafael tínhamos pago uma “agência” que, segundo a promessa, iria nos buscar no aeroporto, levar até a residência, que foi alugada através dessa mesma agência, levar comprar celular, ajudar a abrir conta em banco, além de outras coisas. Mas adivinha?! Nem sinal do pessoal da tal agência.
O Rafael, que já tinha tido uma adorável surpresa quando chegou, e já estava de saco cheio da tal agência, resolveu ligar e cobrar pelo menos o taxista.
Depois de uma hora e várias ligações, eis que chega um taxista enorme e assustador com meu sobrenome escrito errado na plaquinha – Toris – só pra variar meu sobrenome escrito errado!
É um sobrenome tão simples, não entendo como as pessoas conseguem errar tanto! (Enfim...)
 
Além de assustador, o sotaque do sujeito era incompreensível, uma mistura de Inglês Britânico com Africano (provavelmente Nigeriano).
Com um pouco de receio e sem entender nada do que o taxista dizia, o seguimos até o carro.
Fui direto do lado direito do carro, e o motorista me perguntou se eu queria dirigir. Pronto! A primeira, de várias gafes cometidas por causa da mão inglesa e dos benditos carros ingleses.

Na ida do Heathrow pra minha nova casa em Bermondsey, a coisa que mais me chamou atenção foram os carros sendo dirigidos por fantasmas, pois é isso que parece pra quem esta acostumada com a direção do outro lado do carro. O fato de estarmos do outro lado da rua não me impressionou muito, mas os carros sendo dirigidos por motoristas sentados no lado do passageiro, é algo muito bizarro pra quem acabou de chegar.


Moreton House - Bermondsey
O lugar onde passei a chamar de casa era um condomínio de prédios antigos ao lado do Southwark Park, que é um parque bem bonitinho!
O apartamento onde morávamos tinha 3 “quartos” e era dividido por 6 pessoas. Um casal - uma Colombiana e um Brasileiro em um quarto, no outro uma Boliviana e no terceiro quarto, que na verdade era a sala, mas que foi transformado em “quarto”, eu, o Rafael e o Fabricio (um amigo nosso também de Pato Branco).
Chegamos em casa e o Rafael rindo já foi dizendo pro Fabricio: "chegou o banco"! Como eu estava trazendo dinheiro, e o Rafa não tinha conseguido muitos trabalhos, eu acabei virando "o banco"! E foi por isso que o primeiro lugar que fomos "passear" foi o mercado.

Mal chegamos e já fomos pro metrô – Tube – pra irmos ao famoso Tesco, chamado pelo Rafael e Fabricio de “segunda mãe”.

Mal cheguei e os meninos me levaram pra comprar meu primeiro passe pra semana, aprendi depois, que a vida tem um ritmo diferente em Londres pra quem tem trabalho temporário como os nossos. Se compra o passe semanal por que o pagamento de salario é semanal.

 
O Underground é um mundo à parte, com suas cores e cheiros, nomes esquisitos de estações, que se tornam mais esquisitos ainda se você decide traduzí-los. A estação de Bermondsey, há uma quadra da minha mais nova casa, fica na Jubilee Line, a mais moderna das linhas de metrô e também a mais bonita. Não que as outras linhas sejam feias, cada uma tem o seu charme, mas a Jubilee é minha preferida.
 
Quando você olha o mapa do metrô, todas aquelas linhas entrelaçadas parecendo um rabisco de criança, tudo parece muito complicado. Quando o Rafael me deu um daqueles mapinhas de bolso e disse com aquele jeito delicado de irmão :“presta atenção nas linhas e tal”, "presta atenção nas cores" e começou a me explicar como funcionava, tive a impressão que ele estava falando grego, ou inglês, o que naquela altura do campeonato parecia tudo a mesma coisa.
 
Tinha acabado de chegar de uma viagem absurdamente longa, tinha enfrentado a imigração, me assustado com o taxista e os carros sendo dirigidos por fantasmas, sendo apresentada a minha nova casa, sendo chamada de banco e de repente, me vi dentro do metrô, tendo que entender como usar aquela joça. Entendi mais ou menos, mas como o Rafael ficava repetindo “é fácil” “é tranquilo” eu não me preocupei muito, o teste veio quando eu tive que pegar o bicho sozinha.

Minha primeira aventura no metro sozinha foi no dia seguinte, sem celular ainda e com meu ticket pra semana fui toda confiante pra estação de Bermondsey. Peguei a Jubilee Line com direção ao centro, queria ver a Tower Bridge, mas passei a estação e fui parar do outro lado do Tâmisa sem perceber. Como não percebi? Não sei e não me pergunte!

Andei, Andei e percebi que estava perdida, e como não tinha me tocado que atravesara o Tâmisa, pedi as informações erradas e acabei ainda mais perdida. 
Sem celular, numa cidade grande onde eu conhecia no máximo 5 pessoas mas tinha o contato só de 2, comecei a ficar realmente preocupada.
 
- “Ninguém mandou não prestar atenção nas explicações do Rafa” eu pensava e me torturava. Entao pedi informação pra 2 meninos, pra tentar entender onde eu estava. E um deles, sem pensar duas vezes, me deu o celular pra que eu pudesse ligar pro Rafa.

-          “Eu não acredito que você tá perdida Sheila!”

-          “Pois é, estou!”

-          “Mas tá aonde?”

-          “Sei-lá to perdida ué!”

-          “Pede pra te mostrarem onde fica a estação de metro e pega o trem de volta pra Bermondsey” 

Ah Bermondsey... nomezinho ruim de pronunciar esse! É o clássico não se lê como se escreve, afinal se pronuncia Be(r)monZI com aquele R suave dos Ingleses. Pronunciei errado, eles me olharam meio de lado, então lembrei do mapinha do metro (Bendito mapinha!). Mostrei o lugar no mapinha e eles sorriram dizendo:
 
- “Ahhh Be(r)monZi!!!”

E assim foi, entrei no Tube, peguei a linha preta e estudando o mapinha direitinho, entendi como trocar de linha e voltar pra casa. Não preciso dizer que nunca mais me perdi no Metro né?! E  só pra constar, usar o Tube é fácil, muito fácil mesmo!