Tuesday 25 February 2014

A City


Quando não se tem um nível de inglês muito bom, conseguir trabalho em Londres não é das tarefas mais fáceis, e pra ajudar os meses de Maio, Junho, Julho e Agosto (Verão) são os mais difíceis pra quem procura emprego em eventos – que era exatamente o nosso caso.
Em Londres existem várias agências de emprego temporário. Essas agências são responsáveis por prover (em geral) garçons, porters (ajudantes de cozinha, etc)  para os mais diversos eventos, que vão desde a famosa corrida de cavalo em Ascot (com direito a Rainha e tudo) a festa de casamento Indiano. Em geral nosso trabalho era arrumar as mesas e durante o evento, pegar os pratos (quenteees) e colocar nas mesas.
Os meninos trabalhavam em duas agências, uma era a City Centre e a outra - que não era exatamente uma agência – a MJR.Tom, que vendia cerveja.
Mochila de cerveja da MJR Tom
A City tinha geralmente empregos de garçom e porter e a MJR.Tom contratava pessoas pra vender cerveja em eventos. A pessoa tinha que carregar uma mochila especial contendo uns 20 litros de cerveja, cerveja essa que era servida na hora.
Foi na MJR que tentei conseguir meu primeiro trabalho, sem sucesso, e tudo graças a um brasileiro FDP, dos muitos que, infelizmente, existem espalhados pelo mundo!
A entrevista para este emprego vou coletiva, estavamos todos em uma mesa conversando antes da mesma, e esse brasileiro me perguntou algo que eu não consegui ouvir por causa do barulho, e por que ele falou muito baixinho mesmo.
Quando a pessoa responsável pela entrevista chegou, esse brasileiro, que trabalhava na MRJ Tom, apontou pra mim e disse: “Você pode sair porque não fala inglês.”  Eu tentei justificar, disse que não tinha escutado o que ele disse, o que era diferente de não entender. Mas ele não quis nem saber e disse com um sorriso de satisfação: “Get out!”
Fiquei arrazada, não consigo entender o prazer que um idiota desse sente fazendo isso! Mas enfim, fui embora chorando de raiva e desejando que o c* dele explodisse.
Noss e o Ross
Minha visita a City Centre foi no dia seguinte, o Rafael me disse exatamente o que o Ross (o carinha da agência) iria dizer e me aconselhou a não falar muito.
O Ross era uma figura curiosa, um inglesinho bonitinho de olhos azuis, pele bem clara e cabelos escuros. Ele parecia estar sempre entediado e de mal humor, também não tinha muita paciência com quem não falava inglês muito bem, mas ao mesmo tempo, tinha uma paciência de santo nas Segundas Feiras, quando a sala estava lotada de brasileiros falando português. 
Chegamos na City e sentamos pra esperar nossa vez de falar com o Ross, quando ele viu o Rafael levantou a sombrancela e deu um sorrizinho sem muita vontade como quem pensava: “Lá vem o Rafael trazendo outra pessoa pra trabalhar aqui”.
Eu e o Rafa gostavamos muito de ajudar os outros e ajudamos muitas pessoas a conseguir emprego, seja na City ou em outros lugares. Mas, infelizmente, isso não era a regra, conhecemos muitos brasileiros – inclusive um vizinho nosso do Brasil – que sabiam que estavamos na merda procurando emprego, e nem atender o telefone atendiam! Outra coisa pra mim muito difícil de entender!

Quando chegou nossa vez de falar com o Ross, ele fez uma cara de tédio e mal humor e eu comecei a suar frio. O Rafa disse: - "Oi Ross, essa é minha irmã..” e o Ross completou meio impaciente e com um tom de desdém: - “.. que está procurando emprego”. Ele pediu meu passaporte, e deu um papel pra preencher e pronto, eu estava registrada na City! (hurray!)

Segunda Feira era o dia em todo mundo aparecia na City pra pegar os trabalhos da semana. Em geral, você ia na agência e eles te davam a lista de trabalhos da semana e você dizia quando e onde podia – e queria – trabalhar. Quem já era conhecido na Agência – os queridinhos do Ross - geralmente já estava “bookcado” (booked) para alguns eventos, principalmente os eventos onde todo mundo queria trabalhar, como shows por exemplo.
Na Segunda Feira fui na City sozinha e morrendo de medo do Ross, que pra minha surpresa estava sorridente e quase simpático. Sentei na frente dele ao lado de um menino – o Felipe – que eu chamo de anjo,  por que ele foi mesmo um anjo pra mim!

Entender o inglês do Ross era tarefa difícil naqueles primeiros dias de Inglaterra. Ele falava rápido, pra dentro e não tinha muita paciência e isso me deixava super nervosa! O Ross começou a perguntar se eu tinha as roupas necessárias pra trabalhar: Calça preta, camisa branca, colete, sapato preto e meia preta. Como o Rafa já tinha me dito que ele ia perguntar isso, eu disse que tinha e rezei pra que ele não me fizesse muito mais perguntas.  Então ele disse:

- “Vocês querem trabalhar no show do U2? No camarote (box)?”

Eu achei que tinha escutado errado, por que escutei claramente show do U2, mas não fazia ideia do porque ele falou em BOX. Pensei box = caixa?! Não faz sentido!
O Felipe pulou na frente e disse: “Claro que a gente quer! Coloca nosso nome aí”.
Então o Ross começou a dar um monte de informações e eu fazia cara de quem estava entendendo tudo. Ele estava dando um endereço e explicando onde tinha que ir e com quem tinha que falar, eu fingi que anotei.
Sai de lá empolgada, sabia que ia trabalhar no show do U2 e mais nada! Agradeci o Felipe por ter me salvado e pedi pra ele os detalhes do trabalho. De lá fomos caminhar e ele me explicou direitinho como os esquemas da City funcionavam, os lugares bons pra trabalhar, os ruins, etc. Juro que não sei o que teria feito se o Felipe não estivesse sentado do meu lado aquele dia. Anjos existem! (Na foto com o Felipe - de camisa branca e o Cristiano - outro anjo - no camarote da BT)

Sunday 23 February 2014

Brasileira? Ih tô fora!



A maioria dos meus colegas de classe eram brasileiros, o que não facilitava muito o aprendizado de inglês, mas pelo menos eram mais pessoas pra dividir as primeiras impressões da vida Londrina.
Alguns eram legais e se tornaram amigos, outros além de me irritarem, me faziam sentir vergonha de ser brasileira. 
Quem mora fora sabe, existem vários brasileiros que fogem de outros brasileiros como o diabo foge da cruz, e eu já tinha ouvido alguns conselhos do tipo: - "Se você quiser aprender inglês tem que se afastar de brasileiros".
Acho um absurdo todo esse radicalismo, o fato de alguém ser brasileiro nunca foi motivo pra que eu me afastasse de ninguém, mas não posso negar que encontrei muitos brasileiros que me fizeram sentir vontade de me afastar mesmo!

Uma delas era uma colega de sala, do tipo que chegava quase a se benzer se um grupo de brasileiros passasse por ela na rua.

Ficava horrorizada também quando alguém contava, ou ela ficava sabendo, que ficou com um brasileiro na balada.
- “Que absurdo vir até UK pra ficar com brasileiros! Eu só fico com gringos!” ao que eu respondi, porque não tenho muito saco:
-  “Se for gatinho, não me interessa se é brasileiro, gringo ou seja lá o que for!” (A última notícia que tive da fulana é que ela casou com um Inglês, tomara que por amor né gente?!)
Infelizmente essa não foi a única declarada “Maria Passaporte” que eu conheci , existem muitos “João Passaporte” também.

Uma vez estava eu na balada quando um cara veio falar comigo, tinha cara de brasileiro e o sotaque não negava a proveniência do sujeito. Eu sou descendente de Italianos do norte, pele clara que fica ainda mais clara com a falta de sol Londrina, sou uma negação do estereotiópo de mulher brasileira, enfim. Esse sujeito veio falar comigo em inglês e eu respondi em inglês, claro! Ele ficou lá uns 10 minutos me alugando e eu ali, até que ele resolve perguntar:

- “Da onde você é?” Todo sorridente.

- “Sou do Brasil!” Sorri satisfeita.

- “Ah Brasileira!” Ele agora com um sorrisinho sem graça tentando fingir ter adorado a resposta.

Ele conversou comigo por mais um minuto e disse que ia comprar uma Pint ou ir no banheiro, algo do tipo, e sumiu! Final da noite vi o sujeito de novo, agora conversando com outra branquela e pensei: "Será que ele acertou o passaporte agora?!"

 

Sunday 16 February 2014

A vida real


Meus primeiros dias como turista na Inglaterra passaram rápido, e a hora de realmente viver na cidade chegou.  Eu mal podia esperar!

Na Segunda Feira após minha chegada, fomos na escola – East London School of English (ELSE) - onde eu iria estudar, pra fazer meu test placement.
A escola ficava em Whitechapel , o famoso distrito londrino onde Jack the Ripper (Jack o estripador) atacou e matou suas 5 vitimas, conhecidas como “Canonical five” (Cinco Canônicas) . E e claro que o Rafael fez questão de me lembrar disso enquanto andavamos em direção a escola, cantando a musica do Made in Brasil: Jack, O Estripador.
 
"Em londres no fim do século,
Vivia um sádico infernal,
Espalhava terror a noite
Nas escuras viélas londrinas...
Matou cinco garotas gordas
Usando a lãmina de seu punhal!
Jack, Jack...
Jack o Estripador"

Whitechapel no passado era um lugar de extrema pobreza, sujeira e violência, possuia a “pior rua de Londres” , a Dorset Street. A pobreza empurrou muitas mulheres para a prostituição, estima-se que em 1888 existiam 1,200 prostitutas e cerca de 62 bordeis espalhadas pelo distrito.

Hoje, a maioria – cerca de 46.0% - dos moradores do distrito são de Bangladeche (a grande maioria Mussulmanos). As ruas mudaram muito desde os tempos de Jack the Ripper, mas o lugar ainda possuem vielas escuras e sujas. Isso foi uma das coisas que mais me chamou atenção, por que contrastava com a idéia que eu fazia de Londres.

De Bermondsey pra escola tinhamos duas opções, pegavamos a Jubilee line até Canada Water e depois o Overground pra Shadwell  ou Whitechapel, o percurso todo entre caminhar de casa até a estação e de lá até a escola, demorava uns 20 minutos.

Meu percurso preferido, que era o mesmo dos meninos, era descer em Shadwell e atravessar o Watney Market, onde se vende frutas e verduras frescas e outros produtos que refletem bem a população local de Bengaleses. Pra tentar fugir da rotina matinal, as vezes eu seguia pelo Overground até a estação de Whitechapel , que fica em frente ao The Royal London Hospital, gostava de olhar as lojas que vendem produtos bengaleses e indianos e comer Sausage roll e tomar Ribena num lugar chamado Percy Ingle.

A escola ficava na Cannon Street road, que assim como outras ruas de Whitechapel, possuia a maioria das lojas e negócios bengaleses. Embora a rua fosse meio suja, a escola era bonitinha e organizada e a maioria dos alunos eram brasileiros e russos.

Meu placement test foi rápido, uma provinha e uma entrevista com o diretor da escola. Minha avaliação foi Básico/Intermediário , gramática boa mas precisava melhorar listening e speaking. 
Os meninos estudavam a tarde, mas eu fui colocada em uma turma de manha (Joy!)  Como era verão, não era tao difícil acordar, ja que os dias eram muito longos e o sol comecava a nascer as 4:30 da madrugada. O que significava que as 7:30 tinha-se a impressão de que eram umas 9:00 -10:00 horas da manhã.

Minha primeira turma era composta de 5 Russos, 4 brasileiras e um Slovaco. O professor era Inglês (seria óbvio se meu segundo professor não tivesse sido Australiano) chamado David, bem doidinho que adorava o Brasil e me pediu pra fazer uma lista de lugares pra visitar. Não fiquei muito tempo nessa turma, logo meu inglês melhorou e fui transferida pra turma intermediária – com o tal professor Australiano. 

Conheci pessoas legais na escola, outras nem tanto, e embora frequentasse bastante – coisa que nem todo mundo fazia - a escola não fez muita diferença na minha vida em Londres , aprendi muito mais Inglês (e espanhol) trabalhando e convivendo do que na sala de aula. O próximo passo agora era começar a trabalhar...