Saturday 16 November 2013

Welcome to England

Aproveitei o tempo de vôo entre Paris e Londres pra rezar e pedir que Nossa Senhora passasse na frente, abrindo todos os caminhos nessa nova fase da minha vida. O canal da mancha parecia interminável e lembro claramente da emoção de avistar os primeiros pedacinhos de chão do território Inglês. Sei que soa bobagem para alguns, mas a alegria era tamanha que eu tinha a impressão de estar voltando pra casa depois de um longo tempo.

As lindas planícies verdes se abrindo aos meus pés, algumas casinhas perdidas, vilas, tudo parecia surreal e encantador, quase mágico. Quando as filas de casinhas iguais, grudadas umas nas outras surgiu no cenário eu não podia acreditar nos meus olhos. Eu ainda nem tinha pisado naquele pais e já estava profundamente apaixonada.

Quando chegamos no aeroporto o Andrew e a Sharon me deram um bilhetinho com seu endereço e telefones. Antes que eu entrasse na fila da imigração ambos me deram um abraço e me desejaram boa sorte.

            A fila para a imigração era enorme e na medida que avançava meu coração ia disparando.
Coloquei a melhor cara blasé possível pra disfarçar o nervosismo, afinal como tinha lido,  oficiais de imigração são como cães, sentem o medo de longe e, medo denota algum tipo de irregularidade. E eu não queria isso!
Estava vestindo uma roupa que comprei especialmente para a ocasião, calca jeans e um twin set azul clarinho. Nada exagerado, com cara de estudante mesmo, exatamente o que diziam nas comunidades do Orkut – “vá com cara de estudante, porque se for com cara de quem vai trabalhar, já era!”

Meu maior medo era o de falar demais , o que sempre acontece quando estou nervosa. E que no caso da imigração torna a coisa muito complicada. Quanto mais você fala, mais perguntas você levanta, então a dica era só responder exatamente o que te perguntam, nem mais, nem menos. Tentei pensar mais na vontade de ver a Inglaterra do que no medo de não vê-la.

Não sei quanto tempo demorou aquela fila, só sei que na velocidade que meu cérebro trabalhava eu podia  até ter escrito uma tese de mestrado sobre a imigração inglesa. Lembro de analisar os fiscais que estavam trabalhando naquele dia, tinha um loiro baixinho com cara de nazista, uma mulher gordinha com cara de cansada ou entediada, um indiano com uma espécie de turbante e um homem gordinho com cara de pai de família bonachão de filme Americano. Tentei adivinhar qual iria me entrevistar e rezei pra que fosse o gordinho de bochechas rosadas.

Olhei em volta pra ver se alguém tinha sido recusado, algumas pessoas pareciam tensas quando estavam sendo entrevistadas, outras nem tanto, mas nem sinal de ninguém sendo mandado de volta. Tentava ler os lábios dos fiscais pra ver se entendia quais eram as perguntas que eles estavam fazendo.

Na minha frente tinha uma mulher com duas crianças falando uma língua que eu não faço idéia de qual fosse. Mesmo que eu quisesse adivinhar estava tão tensa que tinha ficado até meio surda. Quando eles foram chamados pelo fiscal loiro com cara de nazista fiquei um pouco mais aliviada, porque não queria ser entrevistada por ele de jeito nenhum.
Mal acreditei quando o fiscal gordinho com cara de Americano me chamou e pro meu espanto ele sorriu e me deu bom dia. Na minha imaginação fiscais de imigração não davam bom dia e eram como oficiais do DOI-CODI, ou coisa parecida.

Ele me fez três perguntas curtas e rápidas:

-          O que você veio fazer na Inglaterra?

-          Posso ver a carta da escola?

-          Qual foi seu itinerário?

Quando falei: "Rio de Janeiro" ele sorriu novamente e me contou, ao mesmo tempo que carimbava meu passaporte, que passou a lua de mel no Rio. Me devolveu o passaporte carimbado com visto de seis meses, com direito a trabalhar e me disse as três palavrinhas que eu sonhava em ouvir:

-          “Welcome to England!”
 
Eu nem acreditava, afinal ele não me perguntou quem ia me sustentar, nem mesmo onde eu iria morar. A imigração Inglesa foi tudo o que eu não esperava!
E não preciso nem dizer que foi muito bom ver o Rafael me esperando do outro lado!