As lindas
planícies verdes se abrindo aos meus pés, algumas casinhas perdidas, vilas, tudo
parecia surreal e encantador, quase mágico. Quando as filas de casinhas iguais,
grudadas umas nas outras surgiu no cenário eu não podia acreditar nos meus
olhos. Eu ainda nem tinha pisado naquele pais e já estava profundamente
apaixonada.
Quando
chegamos no aeroporto o Andrew e a Sharon me deram um bilhetinho com seu
endereço e telefones. Antes que eu entrasse na fila da imigração ambos me deram
um abraço e me desejaram boa sorte.
Coloquei a melhor cara blasé possível pra disfarçar o nervosismo, afinal como tinha lido, oficiais de imigração são como cães, sentem o medo de longe e, medo denota algum tipo de irregularidade. E eu não queria isso!
Estava
vestindo uma roupa que comprei especialmente para a ocasião, calca jeans e um
twin set azul clarinho. Nada exagerado, com cara de estudante mesmo, exatamente
o que diziam nas comunidades do Orkut – “vá com cara de estudante, porque se
for com cara de quem vai trabalhar, já era!”
Meu maior
medo era o de falar demais , o que sempre acontece quando estou nervosa. E que
no caso da imigração torna a coisa muito complicada. Quanto mais você fala, mais
perguntas você levanta, então a dica era só responder exatamente o que te
perguntam, nem mais, nem menos. Tentei pensar mais na vontade de ver a
Inglaterra do que no medo de não vê-la.
Não sei
quanto tempo demorou aquela fila, só sei que na velocidade que meu cérebro
trabalhava eu podia até ter escrito uma tese de mestrado sobre a imigração
inglesa. Lembro de analisar os fiscais que estavam trabalhando naquele dia,
tinha um loiro baixinho com cara de nazista, uma mulher gordinha com cara de
cansada ou entediada, um indiano com uma espécie de turbante e um homem
gordinho com cara de pai de família bonachão de filme Americano. Tentei adivinhar qual
iria me entrevistar e rezei pra que fosse o gordinho de bochechas rosadas.
Olhei em
volta pra ver se alguém tinha sido recusado, algumas pessoas pareciam tensas
quando estavam sendo entrevistadas, outras nem tanto, mas nem sinal de ninguém
sendo mandado de volta. Tentava ler os lábios dos fiscais pra ver se entendia
quais eram as perguntas que eles estavam fazendo.
Na minha
frente tinha uma mulher com duas crianças falando uma língua que eu não faço
idéia de qual fosse. Mesmo que eu quisesse adivinhar estava tão tensa que tinha
ficado até meio surda. Quando eles foram chamados pelo fiscal loiro com cara
de nazista fiquei um pouco mais aliviada, porque não queria ser entrevistada
por ele de jeito nenhum.
Mal
acreditei quando o fiscal gordinho com cara de Americano me chamou e pro meu
espanto ele sorriu e me deu bom dia. Na minha imaginação fiscais de imigração
não davam bom dia e eram como oficiais do DOI-CODI, ou coisa parecida.
Ele me fez
três perguntas curtas e rápidas:
-
O
que você veio fazer na Inglaterra?
-
Posso
ver a carta da escola?
-
Qual foi seu itinerário?
Quando
falei: "Rio de Janeiro" ele sorriu novamente e me contou, ao mesmo tempo que
carimbava meu passaporte, que passou a lua de mel no Rio. Me devolveu o
passaporte carimbado com visto de seis meses, com direito a trabalhar e me
disse as três palavrinhas que eu sonhava em ouvir:
-
“Welcome to England!”
Eu nem acreditava,
afinal ele não me perguntou quem ia me sustentar, nem mesmo onde eu iria morar.
A imigração Inglesa foi tudo o que eu não esperava!
E não
preciso nem dizer que foi muito bom ver o Rafael me esperando do outro lado!