Sunday 3 November 2013

O próximo capítulo


Toda história de imigração existe porque existe um agente motivador. Esse agente motivador pode ser o dinheiro a fome, um emprego, o desejo de aventura..etc... existe uma infinidade deles. No meu caso foi o amor, ou melhor, a falta dele.

Foi depois de levar o pé na bunda mais dolorido de minha vida. E tempos depois, o empurrão que faltava - a perca do emprego.

Ir embora foi uma tentativa de fugir de alguém, mais especificamente de um sentimento. Uma grande e profunda tristeza, alguém e um fato que deixaram marcas tão profundas que sei, nunca irão se apagar. O tipo de coisa que, quando você olha pra trás, vê aquilo BEM GRANDE escrito com caixa alta na história da sua vida.

Foi também uma tentativa de fugir da angustiante necessidade de crescer, virar um adulto. E que lugar melhor do que Londres - cenário do Peter Pan?!
Estava fugindo para uma espécie de Terra do Nunca, um lugar para onde as crianças vão quando são obrigadas a crescer, um lugar seguro, longe das mentiras do mundo adulto. Onde não se sentiria tristeza e onde não teriam corações partidos, já que é a terra das emoções e eterna alegria. Costumo dizer que os meus 6 meses em Londres foram meus últimos meses de adolescência. É claro que não vejo nessa minha NECESSIDADE de ir embora só uma fuga, vejo também a aventura e o desejo do novo.

Foi assim que em Junho de 2005,  juntei os caquinhos do que costumava ser meu coração e enfiei tudo em uma mala e fui morar na Inglaterra.

Sempre tive o sonho de viajar, quando era criança o desenho “Volta ao mundo em 80 dias” me fazia suspirar e imaginar que um dia seria eu naquele balão. Adorava qualquer tipo de viagem, mesmo as curtinhas como ir no mercado ou longas com ir pra praia nas férias. Era a primeira a entrar no carro pra ir onde quer que fosse, tanto que meu avô me deu o apelido de “zé gabina” (Cabine de caminhão sabe?!).

Depois na adolescência veio a vontade de colocar uma mochila nas costas e explorar o mundo, mas os anos passam, o mundo começa a cobrar mais responsabilidade, terminar a escola, ir para a faculdade e depois, pra ajudar, veio o tal grande amor. Nesse ponto eu achava que a idéia de viajar por ai iria ficar só no sonho mesmo.

Pra ser bem honesta, nunca sonhei em morar na Inglaterra, da qual a única impressão que tinha até então, era o estereótipo clássico de um lugar escuro coberto em neblina. Tinha planejado morar na França, Itália e Espanha, mas a Inglaterra não estava na lista, mas vontade de viajar nunca me faltou.

Não posso negar que, além de tudo, o gosto da aventura e esse sangue de imigrantes nas veias não tenha ajudado bastante. Sou descendente de colonos italianos, que fugindo da guerra, fome e miséria do norte da Itália embarcaram em um navio e desembarcaram em terras brasileiras.

Uma história da qual me orgulho plenamente e os admiro pela coragem, afinal pouco se sabia sobre o Brasil e o que esperar quando chegar. Embora os mesmos não tivesse muitas outras opções, a decisão de cruzar o oceano rumo ao desconhecido necessita de muita coragem - ou muito desespero!

Glamurosa ou não, essa é a História dos meus bisavós e por consequência a minha. História essa que, até então, parecia coisa de novela, algo tão distante quanto a própria Itália, isso até que eu mesma me tornei uma imigrante e senti na pele o que essa palavra significa.

Quando olho para a história da minha família é fácil notar que a imigração me acompanha desde sempre.  De acordo com fortes indícios, meu sobrenome – Ioris - é grego, possivelmente uma variação de Lioris.
Ou seja, somos gregos que imigraram para a Itália e que depois imigraram para o Brasil e que foram para a Inglaterra, ou sabe-se lá aonde mais.
 
Deve existir algum "gene imigratório" circulando em nosso sangue meio cigano, que nos instiga a imigrar a cada não sei quantas gerações.
(Foto - Família Ioris, 1931) 

Meus motivos para imigrar não foram assim tão grandiosos, meu coração estava em pedacinhos e eu precisava colá-los de qualquer jeito e mudar minha vida.
Na verdade, minha ida para a Inglaterra ainda não contava em minha mente como imigração, afinal eu tinha um visto de estudante de seis meses e esperava que esse tempo pudesse ser suficiente para curar o coração machucado e me sentir viva outra vez. Assim, poderia voltar pra casa após esses meses, renovada e pronta pra outra.

Pode parecer estranho, mas sempre olho para minha vida como se ela fosse um livro, onde é preciso adicionar capítulos interessantes, para que ele se torne agradável e interessante para o leitor. E então, quando um capítulo longo e intenso acabou, eu tinha que escrever outro...