Saturday 9 November 2013

Eu vou para Londres

A idéia de morar na Inglaterra nunca tinha me ocorrido. Imaginava Londres como um lugar sinistro, escuro e frio. Tinha em mente os piores estereótipos possíveis – aliás ao me tornar uma imigrante descobri que nem sempre estereótipos correspondem a realidade – imaginava os Ingleses mal humorados, feios e nada amistosos.

A Inglaterra não era nem de longe minha primeira escolha, no passado tinha sonhado em morar na França, Itália, ou quem sabe estudar na Espanha, mas nunca o Reino Unido. Não escolhi Londres, foi Londres que me escolheu.
Só fui morar na Inglaterra porque meu irmão estava indo morar lá. A idéia de ambos, era voltar para o Brasil e fazer mestrado. Meu nível de inglês era ridículo e embora tivesse feito cursos, nunca tinha levado realmente a sério - lamentei isso muitas vezes em Londres.

O plano a princípio era viajarmos juntos, mas quanto mais líamos a respeito, principalmente em comunidades do Orkut e informações de alguns amigos que moravam ou já tinham morado lá, mais percebíamos que passarmos juntos pela imigração, não era uma boa idéia.
Naquela época para conseguir o visto de estudante– que podia ser tirado no aeroporto ao chegar – você precisava ter um responsável que provasse que poderia te sustentar durante seu tempo de permanência no país. E minha mãe claramente não poderia sustentar dois filhos estudando na Inglaterra.

Foi nessa época também, que eu comecei a entender o termo “Pra Inglês ver” O visto de estudante dava direito a trabalhar na Inglaterra, na teoria 20 horas semanais, na prática, bem mais. A prova de que minha mãe iria me sustentar era uma carta assinada por ela comprometendo-se a fazê-lo e o contra-cheque. Coisa pra Inglês ver mesmo! Então tivemos que apelar pro “jeitinho”, meu irmão foi primeiro e eu um mês e meio depois.

A imigração Inglesa era o terror de qualquer pessoa indo pra ficar. Pesquisei e estudei tanto a mesma, que virei quase uma especialista. Conferia todos os dias as comunidades do Orkut, tais como “Eu vou pra Londres” e “Brasileiros em Londres:”, copiando trechos e dicas e acabei montando uma apostila.

O mais engracado é que, ao mesmo tempo que essas comunidades ajudam, elas podem atrapalhar. Existe sempre aqueles sujeitos que gostam de aterrorizar os outros, fazendo drama, inventando e espalhando boatos. Até hoje não cheguei a conclusão se sao pessoas pessimistas, sátiros, sociopatas ou se foram pagos pelo governo pra apavorar as pessoas e fazer com que elas desistam, nunca se sabe! hehe. (Nessa época só queria mesmo eh que esse tipo de pessoa queimasse no inferno.)
Lembro de um cidadão que jah estava na Inglaterra e viva postando coisas como “Estão deportando geral” ou “Tá quase impossivel conseguir um emprego”. O jeito era ignorar, garimpar os melhores conselhos e estudar bem a imigração inglesa pra não correr o risco de bater e voltar.
 
Poucas vezes na vida rezei tanto, quanto na noite em que o Rafael embarcou para a Inglaterra, afinal, se ele não conseguisse entrar, as chances de eu conseguir seriam mínimas – isso se eu ainda tentasse.
Minha mãe e eu rezamos muito, tínhamos combinado com o Rafa que, seja qual fosse o resultado, ele nos avisaria na primeira oportunidade.


Quando o telefone tocou eu podia sentir meu coração batendo tão forte que tinha a impressão de que ele estava na minha garganta. Minha mãe atendeu e pude ouvir ele dizer: “Mãe, infelizmente…. vou ter que ficar seis meses morando em Londres!”
Foi um alivio tão grande! Agora tinha certeza de que iria mesmo morar na capital Inglesa.
Depois dessa notícia sonhava quase todas as noites com Londres. Comia Londres, respirava e falava Londres. Não existia mais nenhum assunto que me interessasse, até o coração partido já começava a doer menos.
Bem na época começou na Globo uma novela chamada América, que contava a história de Sol, uma carioca que sonhava em morar nos EUA. Essa tal de Sol teve o visto negado várias vezes e sofreu que nem uma condenada tentando atravessar a fronteira do México com a “ajuda” de coiotes. Eu não queria ir para os EUA, muito menos atravessar a fronteira ilegalmente, mas só de ver aquele drama todo com imigração me deixava muito ansiosa!

O mês entre a partida do Rafa para a Inglaterra e a minha viagem foi marcado por muita expectativa e ansiedade no grau máximo. E parecia que o universo estava fazendo de propósito, tudo era Londres! Na TV, nas revistas, parecia que de uma hora para outra o mundo todo resolveu falar de Londres.
Qualquer notícia que vinha de lá me deixava doida. E infelizmente não eram as melhores, o Rafa aprendeu a duras penas que Maio não era um bom mês para conseguir emprego e estava sendo bem difícil pra ele. Mesmo com um pouco de medo, chegou a minha hora de arrumar as malas!