Chegar em Londres foi relativamente fácil, mas de cara
já apareceram os primeiros problemas. Eu e o Rafael tínhamos pago uma “agência” que,
segundo a promessa, iria nos buscar no aeroporto, levar até a residência, que foi
alugada através dessa mesma agência, levar comprar celular, ajudar a abrir
conta em banco, além de outras coisas. Mas adivinha?! Nem sinal do pessoal da
tal agência.
O Rafael, que já tinha tido uma adorável surpresa quando chegou, e já estava de saco cheio da tal agência, resolveu ligar e cobrar pelo menos o taxista.
Depois de uma hora e várias ligações, eis que chega um taxista enorme e
assustador com meu sobrenome escrito errado na plaquinha – Toris – só pra
variar meu sobrenome escrito errado!
É um sobrenome tão simples, não entendo como as pessoas conseguem errar tanto! (Enfim...)
É um sobrenome tão simples, não entendo como as pessoas conseguem errar tanto! (Enfim...)
Além de assustador, o sotaque do sujeito era incompreensível, uma mistura de Inglês Britânico com Africano (provavelmente Nigeriano).
Com um pouco de receio e sem entender nada do que o taxista dizia, o seguimos até o carro.
Fui direto do lado direito do carro, e o
motorista me perguntou se eu queria dirigir. Pronto! A primeira, de várias gafes
cometidas por causa da mão inglesa e dos benditos carros ingleses. Na ida do Heathrow pra minha nova casa em Bermondsey, a coisa que mais me chamou atenção foram os carros sendo dirigidos por fantasmas, pois é isso que parece pra quem esta acostumada com a direção do outro lado do carro. O fato de estarmos do outro lado da rua não me impressionou muito, mas os carros sendo dirigidos por motoristas sentados no lado do passageiro, é algo muito bizarro pra quem acabou de chegar.
Moreton House - Bermondsey |
O
apartamento onde morávamos tinha 3 “quartos” e era dividido por 6 pessoas. Um
casal - uma Colombiana e um Brasileiro em um quarto, no outro uma
Boliviana e no terceiro quarto, que na verdade era a sala, mas que foi
transformado em “quarto”, eu, o Rafael e o Fabricio (um amigo nosso também de
Pato Branco).
Chegamos em casa e o Rafael rindo já foi dizendo pro Fabricio: "chegou o banco"! Como eu estava trazendo dinheiro, e o Rafa não tinha conseguido muitos trabalhos, eu acabei virando "o banco"! E foi por isso que o primeiro lugar que fomos "passear" foi o mercado.
Mal chegamos e já fomos pro metrô – Tube – pra irmos ao famoso Tesco, chamado pelo Rafael e Fabricio de “segunda mãe”.
Mal cheguei e os meninos me levaram pra comprar meu primeiro passe pra semana, aprendi depois, que a vida tem um ritmo diferente em Londres pra quem tem trabalho temporário como os nossos. Se compra o passe semanal por que o pagamento de salario é semanal.
O Underground é um mundo à parte, com suas cores e cheiros,
nomes esquisitos de estações, que se tornam mais esquisitos ainda se você
decide traduzí-los. A estação de Bermondsey, há uma quadra da minha mais nova
casa, fica na Jubilee Line, a mais moderna das linhas de metrô e também a mais bonita.
Não que as outras linhas sejam feias, cada uma tem o seu charme, mas a Jubilee é minha preferida.
Quando você olha o mapa do metrô, todas aquelas
linhas entrelaçadas parecendo um rabisco de criança, tudo parece muito
complicado. Quando o Rafael me deu um daqueles mapinhas de bolso e disse
com aquele jeito delicado de irmão :“presta atenção nas linhas e tal”, "presta atenção nas cores" e começou a me explicar como funcionava, tive
a impressão que ele estava falando grego, ou inglês, o que naquela altura do
campeonato parecia tudo a mesma coisa.
Tinha acabado de chegar de uma viagem absurdamente
longa, tinha enfrentado a imigração, me assustado com o taxista e os carros sendo dirigidos
por fantasmas, sendo apresentada a minha nova casa, sendo chamada de banco e de repente, me vi dentro do
metrô, tendo que entender como usar aquela joça. Entendi mais ou menos, mas
como o Rafael ficava repetindo “é fácil” “é tranquilo” eu não me preocupei
muito, o teste veio quando eu tive que pegar o bicho sozinha.
Minha primeira aventura no metro sozinha foi no dia
seguinte, sem celular ainda e com meu ticket pra semana fui toda confiante pra estação de Bermondsey.
Peguei a Jubilee Line com direção ao centro, queria ver a Tower Bridge, mas passei a
estação e fui parar do outro lado do Tâmisa sem perceber. Como não percebi? Não
sei e não me pergunte!
Andei, Andei e percebi que estava perdida, e como não
tinha me tocado que atravesara o Tâmisa, pedi as informações erradas e acabei
ainda mais perdida.
Sem celular, numa cidade grande onde eu conhecia no
máximo 5 pessoas mas tinha o contato só de 2, comecei a ficar realmente
preocupada.
- “Ninguém mandou não prestar atenção nas explicações do Rafa” eu
pensava e me torturava. Entao pedi informação pra 2 meninos, pra tentar
entender onde eu estava. E um deles, sem pensar duas vezes, me deu o celular pra
que eu pudesse ligar pro Rafa.
-
“Eu não acredito que você tá perdida Sheila!”
-
“Pois
é, estou!”
-
“Mas
tá aonde?”
-
“Sei-lá
to perdida ué!”
-
“Pede pra te mostrarem onde fica a estação de metro e
pega o trem de volta pra Bermondsey”
Ah Bermondsey... nomezinho ruim de pronunciar esse! É o
clássico não se lê como se escreve, afinal se pronuncia Be(r)monZI com aquele R
suave dos Ingleses. Pronunciei errado, eles me olharam meio de lado, então
lembrei do mapinha do metro (Bendito mapinha!). Mostrei o lugar no mapinha e eles sorriram dizendo:
- “Ahhh
Be(r)monZi!!!”
E assim foi, entrei no Tube, peguei a linha preta e estudando o mapinha direitinho, entendi como trocar de linha e voltar
pra casa. Não preciso dizer que nunca mais me perdi no Metro né?! E só pra constar, usar o Tube é fácil, muito fácil mesmo!